Não, esse não é um blog sobre poesias.
Resolvi fazê-lo pra falar, chorar, rir, cantar nas noites de insónia, mostrar um pouco de mim, exercitar isso que praticamente não faço com ninguém por opção. Achei por bem começar com essa poesia do Drummond que já tinha lido há muito tempo, que intitula o blog, não tinha me tocado pra beleza dessa poesia (como aconteceu numa aula que tive com meu professor de Português no Universo, Ivanildo.)
(Pausa para uma divagação: Eras, o professor Ivanildo foi meu professor na 7° série no Madre Celeste Cidade Nova. Ele não mudou muito não com seus cachinhos grisalhos e sua marcante sensibilidade, foi engraçado te-lo encontrado novamente. Lembro que na última aula de encerramento de ano, todos choravam quando ele tocava no violão "bem-te-vi".... é bem te vejo.)
Mas sim, vai ver que essa poesia fala um pouco de mim atualmente, da angústia do "tempo que não se diz mais meu Deus...meu Amor'", isso dói profundamente, uma sensação que não consigo descrever. E as vezes nem parece que sou eu sentindo porque meu "coração também está seco", as alegrias pequeninas do cotidiano são esquecidas.,.sabe?Ser "todo certeza", "não esperar nada dos teus amigos" relatam aquilo que eu tenho vivido, fruto de uma inquietação e frustração tremenda de ver as relações degeneradas, de amizade, amor, família....Não "me incluo fora dessa" como brinca minha irmã, sei que tô mergulhada nisso, o que é pior não sei como sair. Queria as vezes que a velhice chegasse logo, como se eu apertasse a tecla do DVD pro filme passar rápido e acreditar que numa outra vida poderia começar diferente, mas "eles (o mundo) não pesam mais do que uma criança"... ¬¬Acho que me enquadro bem nessa galera que ele fala que acha bárbaro o espetáculo e que os delicados é que preferem morrer....Mas não adianta morrer a vida prossegue....Tudo bem que se alguém ler isso aqui pode achar super "dramático". Mas que atire a primeira pedra quem nunca teve essa sensação uma vez na vida de querer simplesmente sumir da terra!Bem, não sei se é a posição da lua, mas todo fim de ano é a mesma coisa, fico assim. Muitas frustrações e algumas expectativas de recomeçar. Lembrei que o recomeço tem sido muito importante pra mim, tenho que segurar a peteca do "recomeço". Segurar não, guardar bem guardada pra que ninguém ouse me tirar a pequena capacidade de ainda sonhar com o amanhã, de me fazer acreditar que não é tarde para começar a construí-lo.Falando nisso pensei numa frase que a mamãe sempre diz pra mim "teu problema é que queres agarrar o mundo com as mãos"Posso não conseguir, mas não me impeçam de querer tentar.
OS OMBROS SUPORTAM O MUNDOCarlos
Drummond de Andrade
Chega um tempo em que não se diz mais: meu
Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos
edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o
espetáculoprefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.